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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

GoogleCard e a GoogleNet - O Google vai dominar o mundo!

Bancos, novas tecnologias e o futuro dos meios de pagamento

 Hoje (31.10.2014) li uma entrevista de Natália Flach, na Istoé Dinheiro intitulado “Os bancos não sobreviverão às novas tecnologias” que entrevista o senhor Philip G. Heasley, dono do BASE 24 (uma das poucas soluções existentes no mercado para o processamento/autorização de cartões de crédito).

Como sempre trabalhei com sistemas de pagamento (atualmente utilizo o Vision Plus), posso dizer que possuo um pouco de conhecimento sobre o assunto e fiquei tentado a emitir meus comentários acerca do que acho ser o futuro dos meios de pagamentos. Devo admitir que não vejo um futuro muito promissor!

Primeiramente penso, sem chances de estar errado, que o dinheiro físico (papel moeda) jamais deixará de existir! Existem inúmeras características do papel moeda que farão com que ele seja eterno, não citarei nenhuma delas aqui a não ser a que jamais conseguirá ser superada pelos meios digitais de pagamento que é a impessoalidade. E creio que seja esse o motivo principal de sua perenidade, mas falaremos sobre as novas tecnologias.

Quando comecei a trabalhar com meios de pagamentos, e entendi sua arquitetura logo de cara percebi que a atual configuração estava com os dias contados (e isso já faz uma década). Tentei vender essa ideia, mas como quem trabalha nesse meio é muito avesso a mudanças, afinal o sistema é assim, esta assim, sempre foi assim e funciona assim há décadas. A simples ideia de uma mudança no cerne do negócio jamais seria bem vista e desse modo minha ideia foi rechaçada como deveria! 

Afinal, não tem porque mexer em time que esta ganhando! - Deve ser essa frase que a equipe de desenvolvimento da Kodak, que inventou a câmera digital deve ter recebido das outras áreas – Simplesmente não fui ouvido, ignorado, deixado de lado com minha visão obvia de futuro. Talvez com o dono do BASE 24 (que deve representar uns 30% dos autorizadores de cartão de crédito rodando no Brasil) falando sobre isso, talvez, agora eu tenha minhas ideias discutidas.

A tecnologia disruptiva para os meios de pagamento já esta em uso, porém ainda não atingiu escala e os ‘players’ ainda não conseguiram enxergar suas consequências!

Basicamente os sistemas das três grandes marcas (bandeiras) de cartões de crédito globais (VISA, MasterCard e American Express) se baseiam em redes de computadores que interligam todos os participantes do processo de autorização de uma transação de cartão de crédito/débito. Isso significa o que? Que o banco emissor do cartão, o adquirente da transação (empresa que afiliou o lojista, é no Brasil a dona da maquininha) e a bandeira fazem parte dessa rede. Mas a pergunta principal é o que essa rede faz!...

Como já disse ela conecta essas pontas do sistema e faz com que um cliente do Banco X detentor de um cartão da bandeira Y consiga comprar um produto/serviço ou sacar dinheiro em qualquer lugar do mundo (desde que esse lugar possua um POS/PDV – maquininha ou terminal de saque conectado a algum adquirente, que por sua vez esta conectado a bandeira que por sua vez conecta os bancos).

Todo esse sistema é muito arcaico! Arcaico mesmo, coisa de três décadas de idade, sempre passando por evoluções agregando o melhor da tecnologia da época, coisa de vanguarda mesmo!  O processamento é veloz! Para se ter uma ideia, uma linha dedicada de 256kbps era o máximo de velocidade para transmissão de dados existente no planeta em 1980 e elas foram utilizadas nas redes, e acredite ou não ainda existem muitos links com essas velocidades em uso ainda hoje!  E no modelo atual devo dizer que não é necessário nada mais que isso!

Essas redes em muitos de seus pontos ainda operam com essa magnífica velocidade que é ¼ da menor velocidade comercializada hoje no Brasil como banda larga!

Mas como já disse, tudo bem, não precisa mais que isso, afinal cada mensagem de compra ou saque dificilmente excede 1kb de dados, isso mesmo! 1000 bytes, uma foto hoje em baixa resolução repassada no seu grupo de discussões do WhatsApp tem no mínimo uns 30kb! 30 vezes mais! O que isso significa? Que os dados que são transmitidos e utilizados para a aprovação de uma transação com cartão de crédito são minimalistas, só possuem os dados mínimos necessários para que o banco emissor possa ter uma base razoável para aprovar a transação dentro de alguns limites de segurança. Para se ter uma ideia, o padrão internacional em uso para as mensagens (a ISO8583 versão 1 é de 1987 sendo sua ultima revisão em 1993) já tem mais de 20 anos que sofreu sua última atualização, é praticamente um dinossauro a beira da extinção!

A tarja magnética ainda impera nos Estados Unidos mas deixará de existir em breve por mudanças obrigatórias exigidas pelas bandeiras (fraudes em alta, começou a ficar mais caro bancar as fraudes a evoluir o parque tecnológico inteiro), e será substituída pelo maravilhoso CHIP um processador criptográfico magnifico que permite a execução de transações muito mais seguras (com impostação de senha e geração de criptogramas com o sensacional algoritmo de criptografia 3DES) e por vezes de maneira totalmente off-line e sem contato! Simplesmente Incrível! Parece com seu Bilhete de Transporte! (essa foi outra miopia que os bancos e as bandeiras simplesmente deixaram passar, hoje ainda estão correndo atrás, mas perderam o timing!)

O chip é uma tecnologia muito superior à tarja magnética e ao próprio ISO8583 (seu padrão, o EMV foi publicado primeiramente em 1996, sua última versão é de 2011), mas para os padrões de tecnologia existentes atualmente já é algo totalmente ultrapassado. Digo isso, pois, qualquer smartphone é capaz de realizar todas as funções do chip EMV sem grandes dificuldades e em breve todos possuirão um smartphone.

O smartphone substituirá o chip, a trilha magnética, o cartão de segurança do seu banco enfim, para nossos termos práticos, ele substituirá seu cartão. No final das contas ele será o seu validador (os 3 pilares da segurança : o que você é, o que você sabe e o que você possui estarão todas embarcadas no seu celular). Mas para que esse cenário aconteça, muitos paradigmas devem ser quebrados, e infelizmente essa mudança será abrupta e catastrófica!...

A atual evolução dos celulares com tecnologia NFC para transações sem contato já nasceu superada pelas conexões WiFi e 3G/4G ou qualquer substituto a altura. O grande movimento acontecerá, como o pessoal atualmente adora comentar, na nuvem! A evolução que foi vista com o ApplePay é apenas uma das últimas tentativas de dar fôlego extra ao atual sistema de pagamentos, é uma bola extra. Por mais que a evolução seja fantástica ela ainda esta baseada no mesmo sistema de 30 anos atrás no qual existe um ‘plástico’ (cartão) ainda que virtual associado ao pagamento que será realizado! Isso não tem mais a menor razão de existir!

Não quero entrar no mérito de todas as 3 maiores bandeiras serem americanas e em caso de desaparecimento as consequências serão nefastas para toda aquela economia e provavelmente antes de minhas previsões se concretizarem os cenários políticos e econômicos deverão passar por uma mudança significativa, pois como esta (há algumas décadas) o regulador do sistema agirá para que tudo continue na mesma toada.

Não penso como o Sr. Philip, que os bancos não sobreviverão às novas tecnologias, penso que o sistema de pagamentos como um todo deixará de existir! O modelo adotado há décadas sucumbirá quando os bancos perceberem que não precisam mais dos adquirentes, bandeiras ou o que quer que esteja no meio do caminho entre o comprador e o vendedor.

Caso a tecnologia disruptiva de conectar tudo e todos - que já existe hoje - não venha a ser implantada para os meios de pagamento (conectando o ponto A ao B sem nenhum intermediário, que abocanhe uma vultosa fatia monetária) será uma excelente caso de estudo onde as 5 forças de Porter simplesmente não exercem poder algum. Com exceção da rivalidade entre os concorrentes (que embora pareça existir cada bandeira conhece seu lugar e convivem em harmonia) , todas as outras forças desde o poder de negociação dos fornecedores, poder de negociação dos clientes, ameaça de novos entrantes e ameaça de produtos substituto estão em xeque .

Os bancos (pelo menos no Brasil) não terão muito que temer, apenas uma ligeira queda no faturamento referente aos cartões de credito e olhe lá, o cenário que vejo é sombrio!

Segue:

O grande trunfo da VISA, MasterCard, AMEX - como já mencionado - era e ainda é, suas redes globais que conectam o portador de um cartão com seu banco permitindo a realização de transações em qualquer ponto do planeta. Esse grande trunfo talvez seja a maior miopia do negócio de meios de pagamento. Há mais de uma década a internet já consegue conectar tudo e todos!  

Só para ilustrar a fragilidade do negócio, as redes das 3 bandeiras podem e passam transações das outras, isso mesmo, é possível que um compra com cartão MasterCard trafegue na rede da Visa e vice versa!  Não comentarei sobre a Visa e a Visa Europa, ao leitor curioso sugiro que faça uma pesquisa.... Para finalizar imagine que o Google decida entrar nesse mercado, com sua estrutura sem muitos ajustes de tecnologia ele atuaria logo de entrada como adquirente e bandeira podendo por mais incrível que possa parecer unificar todos os cartões do mundo sob sua carteira, digamos assim, seu cartão é VISA, Dinners, Union Pay, não importa ele será um GoogleCard, mas não acho que o Google tenha essa intenção.

Aqui no Brasil possuímos um sistema (controlado pelo Banco Central chamado Sistema de Pagamento Brasileiro) que permite a transferência “instantânea” de fundos de um banco para o outro há mais de uma década, mas digo que algo totalmente novo e ululante chegará para mudar os alicerces do sistema embora a possibilidade desse sistema atuar como bandeira já que conecta todos os bancos brasileiros não é remota.

Recapitulando, a tecnologia disruptiva do processo será a conexão do usuário diretamente com seu banco e do seu banco para o banco de quem precisa receber o dinheiro tudo on-line sem ninguém no meio! Algo parecido – em funcionalidade - com você indo viajar para o exterior e seu celular funcionar normalmente durante sua viagem!

Quando for atingido esse estágio, corram para as montanhas! Será algo parecido com a derrocada da BlockBuster! Em poucos anos marcas de renome, quase seculares, empresas que empregavam milhares de funcionários, “geravam” bilhões de lucro, transacionavam trilhões por suas redes simplesmente serão parte da história! Muitos dos “players” do atual cenário de meios de pagamento deixarão de existir e estarão ao lado de grandes figuras como o Cheque Eletrônico, o ressuscitado ELO, o RedeShop!

Agora o exemplo para ficar bem ilustrado o pensamento.

Vou pagar o cafezinho na padaria.

1 - Saco minha carteira, pego uma nota de 50, falo meu cpf (para sair na notinha e eu receber parte do imposto de volta), pego o troco e a notinha (ou nem isso) e vou embora.  O dono da padaria recebe o dinheiro na hora e sem descontos (mas dinheiro vivo e no Brasil isso acaba gerando outros problemas que não serão mencionados nesse texto)!

2 - Saco minha carteira, pego o cartão, ele é inserido na maquininha, sou indagado se quero crédito ou débito, informa-se o valor e aguardamos a inserção da senha e a saída do slip (papel que sai da maquininha/POS), falo meu cpf e pego a notinha e minha via do slip. O dono da padaria recebe o dinheiro a partir de depois de amanhã até 30 dias na sua conta e tem num desconto médio de 4%. Se paguei no débito o dinheiro já saiu da minha conta, se era um cartão pré-pago já saiu há mais tempo ainda e se for cartão de crédito no fim do mês pago a fatura!...

Exemplo de hoje, mas amanhã

3 – Passo minha carteira no leitor do caixa da padaria (dentro dela existe um cartão com tecnologia revolucionária que permite que a transação aconteça sem contato direto e sem impostação de senha), falo meu cpf, pego meu cupom fiscal e a via do slip e vou embora! (Afinal preciso dos papéis! Nem que seja para jogar fora daqui a pouco). O dono da padaria recebe o dinheiro nas mesmas formas do item 2 e ele sai do meu bolso da mesma forma.

4 – Passo meu celular no leitor do caixa da padaria (antes disso tenho que selecionar algum aplicativo e informar o que quero fazer). Falo meu cpf, pego meu cupom fiscal e a via do slip e vou embora! Tanto eu como o dono da padaria continuamos com o esquema de troca de fundos do item 2.

A disruptura.

As opções 3 e 4 ainda estão associadas a um cartão de crédito/débito o que não é mais necessário, e não é necessário há muitos anos! Mas por razões históricas as evoluções seguem sempre em cima da mesma tecnologia de 30 anos atrás da ISO8583 e das magnificas redes de comunicação das bandeiras!

O fim dos tempos acontecerá quando eu informar diretamente pro meu banco o que quero fazer e esse transferirá automaticamente o valor para o dono da padaria sem intermediários que não sejam os próprios bancos! Os bancos vão continuar existindo o que o senhor Philip G. Heasley não viu é que o negócio todo dos meios de pagamento como o conhecemos e como ele evoluiu é que esta à beira da extinção!

Exemplo que verei quando o fim dos dias chegar!

5 - Passo meu celular no leitor do caixa da padaria e pronto! O dono da padaria recebe o dinheiro na hora na conta corrente do banco que ele possui conta e meus recibos chegaram por e-mail ou consultarei no site da fazenda (o cupom/nota fiscal) e/ou no site do meu banco o que seria o análogo ao slip.

Exemplo da ficção cientifica

6 – Passo meu dedão, digo pra pagar ou simplesmente saio pelo caixa (fui previamente escaneado e identificado automaticamente) e tudo esta resolvido!...

O exemplo 6 não chegarei a ver, mas o 5 creio que em poucas décadas estará em funcionamento, a interligação entre os bancos já existe via banco central, mas pode ser que no novo arranjo os bancos se interliguem uns aos outros sem a necessidade de outra entidade.

Dúvidas, críticas e sugestões são bem aceitas. Adoraria discutir o tema tomando um chopp e comendo uma coxinha! Aceito convites!